Wednesday, May 26, 2010

Para onde vão as palavras quando ficam velhas?

Mário Sérgio Cortella afirma que as pessoas não ficam velhas. O que fica velho é aparelho de TV (ou televisor, como se dizia na minha infância). O homem se renova a cada dia, se torna novo a cada mudança.
É uma bela visão sobre o passar do tempo e tenho de concordar com ela. Se tivermos o cuidado e a sorte de que nossa mente não degenere, podemos nos fazer novos a cada dia, como a avó de uma grande amiga minha que, aos mais de noventa anos, diz que só vai para o asilo quando ficar velha. Ou como a mãe de Caetano Veloso, que ao completar um centenário de vida disse que só vai tomar mingau no dia em que ficar velha. Que mingau é comida de doente e de idoso e ela não é nenhuma das duas coisas. Que maravilha envelhecer assim! Ou seria melhor dizer "que maravilha rejuvenescer assim"?

Mas por que esse assunto em um blog sobre palavras? Porque tenho pensado em como algumas palavras envelhecem.

E são abandonadas com o tempo. Ninguém mais se lembra de algumas delas, que ficam vivas apenas na memória das pessoas mais velhas ou acabam indo para o asilo das palavras.
E onde fica esse asilo?
A palavra escrita, no meu modo de ver, é o asilo das palavras que caem em desuso. 


Explico:
Quando paramos de usar certas palavras, elas somem das conversas, dos jornais, dos programas de TV e só permanecem vivas em livros, revistas, páginas de Internet e jornais antigos. Ninguém se lembra delas a não ser que "visite" um desses "asilos". Na leitura encontramos palavras de que já não nos lembrávamos mais ou que nunca havíamos ouvido antes, como quando lemos Machado de Assis ou mesmo um jornal ou revista de 10 anos atrás...


 E agora me ocorre que os sites de vídeos como o Youtube também servem de asilo para palavras faladas... Basta "visitar" um vídeo desses guardado há muitos anos para ver que muitas palavras que estão ali, podem não estar mais em uso.

Bom é saber que as palavras envelhecem, mas não morrem jamais, enquanto houver asilos para elas. No papel ou na nuvem digital.

A capa do asilo, digo, livro, que ilustra esse post é de domínio público e pode ser encontrada aqui.