

No intervalo de um curso que eu ministrava para professores no Rio de Janeiro, enquanto tomava café com os participantes, todos cariocas, comentei que estava com vontade de umas bolachas. Uma das participantes riu e disse que, no Rio,
bolacha quer dizer
tapa,
tabefe. Nessa ocasião, o contexto me livrou de levar umas bofetadas, pois diante da situação, todos entenderam que eu me referia aos
biscoitos (palavra usada pelos cariocas para designar as
bolachas dos paulistas) e não a algum desejo masoquista de apanhar! Cruzes! Ainda bem! :-)
Biscoito e
bolacha são a mesma coisa do ponto de vista gastronômico, embora em São Paulo tenhamos biscoito de polvilho mas não bolacha de polvilho! Acho que os de formato achatado costumamos chamar de bolacha, mas isso não é regra.
Em inglês, temos
cracker (geralmente um quadrado ou retângulo de massa assada crocante e salgada) e
cookie (geralmente redondo e doce).
Em inglês, a palavra
cracker é usada figurativamente para designar também a)
uma pessoa pobre e branca ou b)
uma pessoa pobre, branca, habitante da zona rural, geralmente do sul dos EUA.O termo é pejorativo e causa ofensa à pessoa assim designada.
Embora eu achasse que a metáfora derivasse da associação entre a cor da bolacha e a cor das pessoas dessa região, na verdade, a origem é outra. O excelente
Online Etymology Dictionary me ensina que
cracker deriva, nesse caso, do verbo
crack, de origem escocesa, que significa
gabar-se,
vangloriar-se. Segundo o dicionário, em citação de G. Cochrane, datada de 1766, os
crackers receberam esse nome por serem considerados à época, “…
grandes contadores de vantagem*; um bando de pessoas desonestas, sem lei, de moradia incerta e habitantes das fronteiras da Virgínia, Maryland, Carolinas do Norte e do Sul e da Geórgia.”
(*ou
gabolas, como se dizia antigamente – segundo ouvi dizer! ;-)
Cracker em português, no sentido b) acima, poderia ser traduzido como
capiau, termo pejorativo para designar os originários ou habitantes das áreas rurais no Brasil. A palavra
capiau vem do guarani e tem diferentes correlatos nas diversas regiões do país.
Em português,
cracker no sentido a) acima seria
branco azedo,
branquelo.
Lembrem-se de que referir-se a uma pessoa como
cracker em inglês ou em português como
capiau,
branquelo ou
branco azedo é ofensivo e preconceituoso. São palavras (e idéias!) a serem evitadas sempre, portanto.
O mesmo vale para
nigger (em português,
crioulo), que nunca deve ser usada para designar pessoa negra em inglês. Nos EUA, os termos politicamente corretos são
Afro-American ou
black. No Brasil, usa-se
afrodescendente ou
negro e evita-se a palavra
preto, considerada ofensiva.
Segundo leis brasileiras, dirigir-se a alguém com palavras ofensivas em relação à cor da pele é punível por lei, constituindo crime inafiançável.